Desapego na meditação
- Consciência Corporal
- 10 de out. de 2020
- 2 min de leitura
“Quando eu abro mão do que eu sou, eu me torno o que eu poderia ser.”

Dentre os 21 temas tratados na meditação ch´an, um dos mais difíceis é o desapego.
Assim foi proclamada a primeira nobre verdade por Sidarta Gautama (Buda):
"Esta é a nobre verdade do sofrimento: nascimento é sofrimento, envelhecimento é sofrimento, enfermidade é sofrimento, morte é sofrimento; tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero são sofrimento; a união com aquilo que é desprazeroso é sofrimento; a separação daquilo que é prazeroso é sofrimento; não obter o que se deseja é sofrimento; em resumo, os cinco agregados influenciados pelo apego são sofrimento."
Os cinco agregados são: forma material; sensação; percepção; formação mental e consciência. Eles formam o “eu”, e o apego é mencionado como influência do sofrimento. Para compreender a origem do sofrimento pelo desapego, é fundamental compreender a impermanência. Tudo na vida é mutável.
Na meditação ch´an, pratica-se o foco na respiração conjuntamente com a atentividade: dos sons, da temperatura, das dores e pensamentos, mas sem apego a nenhuma dessas percepções ou sensações. E, porque não se apegar a uma sensação agradável de relaxamento, ou de alegria experenciada durante a meditação? Porque ela já foi.
Quando pensamos: “Uau, que gostosa essa paz interior!”, é a nossa racionalidade que está interpretando uma sensação que já foi. Se nos apegamos a ela, e certamente ela não permanecerá, já é um sofrimento. A própria expectativa de reproduzir a mesma sensação na próxima vez já será uma causa de sofrimento e frustação.
Não se quer dizer que devemos evitar as sensações agradáveis ou desagradáveis. Ao contrário, devemos desfrutá-los sem julgamento enquanto presentes. Cessadas as causas e condições da situação, é momento de deixá-las ir.
Isso não só se aplica se aplica à prática meditativa, mas à vida. Dinheiro, em si, não é causa de sofrimento, nem traz felicidade. Dinheiro significa maiores possibilidades. O apego ao dinheiro traz avareza. As possibilidades do avarento diminuem, porque não é capaz de abrir mão dele quando as oportunidades aparecem. O apego à falta de dinheiro (existe isso sim!) também é causa de sofrimento, podendo servir como alimento para vitimismo e baixa autoestima. O mesmo se pode falar de sucesso, beleza, saúde, pois tudo é impermanente.
O apego ao passado decorre de uma tentativa de reproduzir algo que já se foi. Quando eu era jovem! Quando eu era solteiro(a)! O “quando” expressa uma comparação do passado com a situação atual. De lá pra cá tudo mudou, e não dá para comparar, porque simplesmente as situações não são as mesmas. Apegar-se ao futuro expressa uma expectativa, fechando as múltiplas possibilidades. Os “melhores” anos de vida não estão no passado nem no futuro. Só há o presente, único, nem melhor ou pior.
Em última análise, a prática meditativa visa o desapego do “Eu” formado ao longo na nossa vida, condicionado por crenças e valores sociais, culturais e familiares. Um “Eu” construído para se adaptar ao mundo. Nas palavras de Lao Tzu:
“Quando eu abro mão do que eu sou, eu me torno o que eu poderia ser.”
Autor: Consciência Corporal
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